Agile Marketing em 2020 – Relatório anual
A @AgileSherpas em parceria com a @Mantis Research lançou o seu terceiro relatório anual sobre o estado do Agile Marketing. Para esse relatório, foram entrevistados 637 profissionais de marketing e empresários (96% originários da América do Norte) que trabalham e lideram diversos tipos de organizações.
Nesse artigo vou apresentar minha interpretação dos resultados e compartilhar minha experiência particular de alguns anos trabalhando com Agile em organizações de Marketing.
Você pode ver o relatório completo no site da AgileSherpas.
A era pós-agile
Está cada vez mais claro que já estamos em uma “era pós-agile”, onde ou você se transforma ou ficará para trás. Do total de entrevistados, 42% se auto-intitulam como “ágeis”. A maior representatividade dos últimos três anos, mostrando que agile vem ganhado cada vez mais espaço.
E não é só isso…
Dos entrevistados que não se reconhecem como “ágeis”, 43% pretendem implementar agile no próximo ano. Então podemos esperar uma representatividade ainda maior ano que vem.
Dentro do desenvolvimento de software a agilidade já está bem fundamentada, a final de contas os métodos ágeis surgiram dentro desse ambiente. Após muitos anos lutando para mostrar que outras áreas do conhecimento também podem se beneficiar de uma implementação ágil, finalmente vemos um reflexo disso no mercado, em 52% das empresas entrevistadas a área de vendas também utiliza métodos ágeis e 31% das empresas citou a área de finanças como outra área que também utiliza métodos ágeis.
Produtividade, mudanças de prioridade e inovação
E qual seria a justificativa para os métodos ágeis terem saído do desenvolvimento de software e migrado para outras áreas do conhecimento?
Vamos começar pelo que os times mais procuram em uma implementação ágil, e isso varia desde o aumento na produtividade da equipe (58%) e na inovação (49%) e vai até ao aumento da predicabilidade de campanhas (26%) e gerenciamento de times distribuídos (31%).
Além dessa busca, os times relatam diversos benefícios na adoção de métodos ágeis, como o a melhora do time to market (53%), times mais produtivos (53%) e uma priorização mais efetiva (53%).
Mas uma implementação ágil não se resume a benefícios para o negócio, ela também influencia positivamente a satisfação e bem-estar dos profissionais envolvidos.
Dos profissionais que trabalham em departamentos de marketing que usam agile, 74% relatam estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a forma com que o departamento gerencia o trabalho, isso contra uma satisfação de apenas 58% em áreas que usam métodos tradicionais de trabalho.
Melhoria contínua
Mesmo que 66% dos times usam agile há pelo menos 3 anos, mais da metade deles (53%) declara que sua implementação ágil precisa melhorar ou se tornar mais madura.
E esse é um dado que vivencio, muito!!! Dos times que conheço, muitos dizem que usam agile mas que na prática, falta ainda um longo caminho.
Eu vejo isso como um reflexo de uma cultura de melhoria contínua.
Depois de 3 anos de implementação ágil eu tenho plena certeza de que essa implementação já está madura, ou pelo menos bem avançada na sua jornada de transformação, e um ponto importantíssimo da transformação ágil é a melhoria contínua.
Porém eu vejo que esse clima de sempre ser melhor e entregar melhores resultados gera um efeito colateral onde os times dificilmente ficam satisfeitos com o momento atual de sua transformação. Esse efeito colateral trás prós e contras, uma vez que o time sempre vai buscar por melhorias, mas também a sua moral pode cair com o tempo.
Eu vejo esses dados como um ponto de atenção para todos os líderes de times ágeis e agile coaches.
Os resquícios evolucionários
Um dos resultados do relatório que mais me chamou a atenção é a prática ágil mais adotada pelos times, e 58% deles apontam as famosas reuniões diárias (daily standup meeting) como a prática mais usada. Logo em seguida vemos o uso de user stories (46%) e em terceiro lugar as retrospectivas (43%).
Essas três práticas foram muito difundidas junto com o framework Scrum, o que faz sentido uma vez que o Scrum é o framework de entrada em diversas transformações ágeis, isso nos leva a pensar que Scrum é o framework ágil mais utilizado por essas equipes certo? Não! A metodogia híbrida, onde existe uma adaptação de frameworks de marcado ou a mistura de frameworks, é a mais adotada pelos times (47%) e o Scrum só aparece em terceiro colocado (14%), atrás ainda de metodologia Lean (17%).
Eu considero isso um resquício evolucionário.
Como muitas equipes começaram usando o Scrum em sua transformação ágil, as reuniões diárias, a utilização de user stories e as retrospectivas foram parte essencial desse primeiro passo. Com o passar do tempo, esses times começaram a adaptar o Scrum e misturá-lo com outras práticas gerando assim um framework híbrido. Porém, as práticas presentes lá no início da jornada não se perderam, gerando assim um resquício evolucionário dentro desses times.
Esses resquícios evolucionários não são necessariamente um problema, se essas práticas continuam fazendo sentido para a equipe e seguem agregando valor, não precisamos nos preocupar. Agora, se essas práticas continuam presentes por “inércia”, aí sim devemos prestar atenção e, quem sabe, adaptá-las às necessidades atuais do time.
Outro ponto a se atentar nesses dados é que as retrospectivas são a terceira prática mais adotada pelos times.
Eu gostaria muito de vê-las em primeiro lugar no futuro, uma vez que essa é para mim a prática ágil de maior importância dentro dos times.
Ter um tempo reservado para observar, discutir e adaptar seus processos, ferramentas e estratégias é essencial para responder a mudança e se manter competitivo no mercado. Inclusive evoluir as próprias retrospectivas para que elas sejam feitas baseada em dados e não apenas na percepção dos indivíduos é um desafio que nós, agile coaches e líderes de times ágeis enfrentamos.
Considerações finais
Existem muitos outros dados extremamente relevantes no relatório, como por exemplo a urgência de termos melhores ferramentas para apoiar nossa transformação ágil, ou então a falta de treinamento ser uma das principais barreiras para a adoção ágil.
[Vale muito a pena ver o relatório na integra e tirar suas próprias conclusões.]
É muito satisfatório ver a evolução das implementações ágeis pelo mundo! Comparando os três relatórios, conseguimos ver grandes progressos e os desafios ficam cada vez mais claros, e esses resultados motivam a continuar nessa jornada de divulgação, capacitação e transformações ágeis no mercado.
Agora, resta a ansiedade de ver quais serão os resultados para 2021 e ver quais foram os reflexos da pandemia do novo coronavírus nas transformações ágeis pelo mundo. Enquanto não temos o relatório, fica aqui meu convite para vocês verem os relatórios dos anos anteriores e compartilhar suas conclusões com a comunidade ágil.