As 3 principais características de um time ágil
Uma das grandes diferenças entre métodos tradicionais de gerenciamento de projetos e métodos ágeis é a forma como lidamos os times. Normalmente os grupos se formam em silos, fortes e bem estruturados ao redor das áreas de conhecimento que compõem a cadeia de produção (value stream).
Esses grupos criados ao redor de áreas de conhecimento geram um ambiente onde, para criar um produto, ou prestar um serviço, a demanda deve passar time a time e a cada passagem o produto vai ganhando forma até que no fim, temos um produto ou serviço terminado.
Essa é uma descrição superficial de um gerenciamento em cascata, e aqui podemos identificar diversos desafios, como por exemplo o gerenciamento da passagem de demanda de um time para o outro. Cada vez que um time termina seu trabalho e entrega para o próximo, devemos garantir que todas as informações recebidas pelo primeiro time é passada adiante para o próximo, e quanto maior o número de passadas que existe em uma cadeia, mais complexo fica esse gerenciamento.
Outro desafio que conseguimos identificar é a concorrência entre equipes, seja ela positiva ou não. Vamos pensar em alguns exemplos para entender como isso funcionaria, vamos supor que o produto desenvolvido tenha sido um sucesso junto ao cliente, e o mesmo quer reconhecer a equipe que o produziu, nesse sentido teríamos que identificar os indivíduos que trabalharam diretamente nesse produto, ou reconhecer genericamente os silos que pertencem à essa cadeia de produção. O desafio fica ainda maior quando falamos de erros, se no final da cadeia o cliente enxerga um problema com o produto, de quem é a culpa? Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida.
Esses são dois dos diversos desafios que o gerenciamento de projetos tradicionais enfrentam, e conhecendo esses desafios, os métodos ágeis vieram para resolvê-los e ainda trazer como efeito colateral positivo uma maior produtividade e qualidade. Para isso acontecer existem 3 conceitos básicos que norteiam a criação de times ágeis, a multidisciplinaridade, auto-organização e autossuficiência.
Multidisciplinaridade
Contrastando com grupos formados por áreas de conhecimento, os times ágeis são multidisciplinares, ou seja, são grupos formados por integrantes de diversas áreas do conhecimento.
Por exemplo, se temos em uma cadeia de valor as habilidades de Análise de Sistemas, Desenvolvimento, Testes, Automação e Homologação, um time ágil vai conter ao menos um integrante de cada uma dessas áreas de conhecimento. Todos eles interagindo juntos como uma única equipe, não havendo mais (ou reduzindo consideravelmente) a necessidade de passar uma demanda de uma equipe para outra, a informação flui dentro de uma mesma equipe.
Além disso, geramos um sentimento de pertencimento desses profissionais, uma vez que eles serão responsáveis do começo ao fim pelo desenvolvimento do produto, ou prestação do serviço. Eles deixam de trabalhar em partes desconexas de diversas fontes, ou de múltiplos produtos, e passam a se focar em um único trabalho, tendo a noção do todo e assim até migrar de prestadores de serviços, para profissionais consultores, agregando mais valor ao cliente.
Auto-organização
Além de um time multidisciplinar, um time ágil é auto-organizável, ou seja, não existe uma gerência rígida de comando e controle, não existe um indivíduo no grupo que manda o que deve ser feito e como deve ser feito. Essa auto-organização emerge desse time de especialistas em suas mais diversas áreas.
Nós entendemos que, por esses profissionais serem especialistas e estarem colaborando juntos em um único projeto, eles são as pessoas mais indicadas para dizer o que deve ser feito e como deve ser feito o projeto. O papel do gerente, ou do líder, muda para um líder servidor, que inspira o time, apoia na criação do ambiente necessário que eles precisam para melhor performar, e também se dedicam no desenvolvimento profissional do time.
Essa auto-organização aumenta a qualidade do produto em diversos níveis, uma vez que confiamos e damos a liberdade da equipe para fazer aquilo que eles fazem de melhor, o trabalho que estudaram anos para realizar. Além disso, essa liberdade gera uma cultura de inovação de forma natural, uma vez que não existe um controle rígido de alocação e controle de horas trabalhadas, dando espaço para ócios criativos, essenciais para um ambiente de alta inovação.
Autossuficiência
Quanto mais ampla a gama de profissionais que trabalha na equipe ágil, mais autossuficiente esse time se torna. O ideal é que todas as habilidades necessárias para a produção do produto estejam presentes dentro do time ágil, evitando assim a necessidade de comunicação desse time com equipes externas. Esse conceito reduz a complexidade de gerenciamento das informação, e também maximiza a colaboração e desenvolvimento dos membros da equipe.
Esse é um dos conceitos mais difíceis de ser colocado em prática, por muitas vezes existem profissionais que vão interagir com o projeto em pontos específicos ou em um volume de tarefas baixo o bastante para justificar que esse profissional não deve fazer parte interina dessa equipe.
Em cenários como esses, o profissional é considerado um prestador de serviços terceiro, e estratégias de liderança ágil dever ser criadas para que essa interação externa ao time seja produtiva, e não prejudicial.
Por mais que essa não seja uma lista exaustiva de características de times ágeis, essas são as principais, e se aplicadas, farão toda a diferença na moral e qualidade do produto para o cliente.
Dentro do Curso Squads: gestão de times inovadores eu exploro em mais detalhes não só esses três conceitos principais, mas também outras técnicas e práticas para liderar e fazer parte de um time ágil.
Ainda é, e será por muito tempo, o DNA de grandes times!