Ratos e a agilidade, o que podemos aprender?
Muitos de vocês não sabem, mas eu tenho como pet 4 ratos twisters (da mesma família dos famosos ratos de laboratório), apesar do preconceito ao redor deles é importante dizer, não! Eles não transmitem doenças por serem de criadores, vão com frequência ao veterinário para ter certeza de que está tudo bem. Além disso, eles são super carinhosos e inteligentes!
Inicialmente tínhamos três ratinhos, Bilbo, Bendy e Batman (qualquer semelhança é mera coincidência) e após alguns meses, surgiu a oportunidade de adotarmos um novo ratinho o Carlos Daniel, foi nesse momento que passamos a estudar como colocar um novo rato na colônia.
É importante entender que os ratos são animais muito territorialistas e dominantes, eles vivem em colônia onde cada membro tem sua função, temos o rato alfa responsável pela colônia em geral, temos o beta que é o rato que faz “mediação” entre os membros da colônia e outros.
Por serem territorialistas e dominantes, a inclusão de um novo membro na colônia não é algo trivial, se simplesmente colocarmos um rato novo em uma colônia desconhecida, acidentes sérios vão acontecer! Dessa forma, existem pele menos dois métodos que conhecemos para apresentação, escolhemos o método chamado Carrier.
Um novo membro na colônia
Sem entrar em detalhes sobre o método, ele se resume em colocar a colônia em um espaço neutro (sem cheio da colônia) e pequeno, com comida e água, junto com o novo membro, espaço pequeno suficiente apenas para que eles consigam se deitar. Aqui precisamos ficar de olho para que acidentes não ocorram, por mais que brigas por dominância ocorram.
Conforme a relação entre os membros se torna melhor, ampliamos gradativamente o espaço disponível e o enriquecimento ambiental (banheiro, redes, brinquedos e outros), e passo a passo a nova colônia é formada, com os membros originais e o novo membro apresentado, até que eles retornem para o local original da colônia.
É um processo demorado (estamos a 3 meses fazendo essa aproximação) e bem complexo, com muitos conflitos entre os ratos e nós, como seus tutores, devemos saber dosar a quantidade de intervenção que fazemos, a final de contas, os conflitos fazem parte da adaptação do novo membro na colônia, só não podemos deixar que as coisas fujam do nosso controle.
Os ratos precisam de tempo para aceitar um novo membro, o conflito precisa acontecer. Os tutores devem estar atentos para que a situação fique minimamente controlada, a progressão é gradual e o ponto mais importante é que, a cada novo membro na colônia devemos repetir esse processo desde o início.
O modelo de Tuckman
Mas, o que toda essa história de 3 meses de apresentação do Calos Daniel para a colônia do Bendy, Bilbo e Batman tem a ver com a agilidade?!
Quando estudamos composição de times ágeis, uma das teorias que nos baseamos é o Modelo de Tuckman, esse modelo representa a curva de maturidade e produtividade que um time percorre.
Segundo o modelo, tudo passa por 5 estágios:
- Forming, ou formação – Nessa etapa as pessoas ainda não se conhecem, existe muito medo de exposição e necessidade de segurança. Após algum tempo, o time evolui de forming para a etapa de Storming.
- Storming, ou conflitos – É o momento de baixa de produtividade, onde os valores individuais entram em conflito com os valores sociais do grupo, que ainda não é forte o suficiente para trazer coesão na equipe. Assim que a coesão social acontece entramos em um momento de Norming.
- Norming, ou normalidade – É quando o time se alinha e passa a trabalhar como um time único. Seguindo seu desenvolvimento a equipe chega em Performing.
- Performing ou performance – É o momento de maior sinergia da equipe. Após a coesão social, o time passa a colaborar e criar novas formas de trabalho tornando-os produtivos. Por fim, todo o time acaba se desfazendo e esse é o estágio de Adjourning.
- Adjourning, ou simplesmente termino – É o momento de despedida e celebração do trabalho entregue.
Da mesma forma como acontece durante a apresentação de um novo membro para a colônia de ratos, dentro do modelo de desenvolvimento de equipes, a etapa de conflitos é de extrema importância! Para os ratos, esses conflitos se expressam em brigas por dominação, já em times, vemos essa expressão como uma defesa de crenças e posicionamentos, mas em ambos os casos quanto mais saudável forem esses conflitos, melhor será a formação da futura colônia ou equipe.
Assim como na minha experiência com os ratos, eu como tutor devo me focar em não deixar a situação fugir do controle, os conflitos devem acontecer, mas ninguém deve sair machucado. Como líder de um time em formação, a analogia segue válida, precisamos intermediar esses conflitos par que eles sejam saudáveis e focados no desenvolvimento do grupo social, que é um time.
E não é são apenas nos conflitos que temos semelhanças, a duração dessa curva, seja ela de apresentação de um rato na colônia ou a formação de um time, é variada, mas geralmente leva-se um tempo considerável.
Essas mudanças sociais são lentas e seja como tutores de ratos ou líderes de equipes, devemos respeitar o tempo dos envolvidos.
Quanto mais tentamos apressar esse processo, mais danoso ele será.
Dentre todas essas analogias, existe uma que eu considero a mais importante, e é o ponto que os líderes e geralmente a linha executiva tem mais dificuldade em entender, a estabilidade!
Estabilidade de times
Toda vez que um novo membro tiver que ser apresentado a colônia de ratos, devemos voltar ao início do processo e todas as etapas devem ocorrer novamente, respeitando seu tempo e maturação. Da mesma forma acontece com a formação de times!
Toda vez que acontecer uma alteração na equipe, seja saída ou entrada de um novo membro, o time retorna para o estágio de Forming e a equipe passa por toda a etapa de adaptação social. Obviamente quando falamos de times temos uma diferença gigante, os ratos não têm inteligência emocional, raciocínio lógico bem desenvolvido e nem outras habilidades quase que exclusivas dos seres humanos. Assim dependendo da equipe e das pessoas envolvidas, a velocidade de adaptação pode ser bem mais rápida do que vemos com muitas colônias de ratos.
Esse é um comportamento que geralmente líderes e até executivos de empresas, tendem a ignorar ou não querem acreditar que aconteça, a final de contas, muitos tratam seus profissionais como “recursos”, peças de um jogo que podemos jogar como bem entendermos e no meu artigo Pessoas não são máquinas e bons líderes sabem muito bem disto eu explico os problemas dessa abordagem.
O ponto aqui é, quanto mais estável for o time, mais produtivo ele será!
Como no nosso exemplo de colônia de ratos, quanto mais estáveis forem os membros, mais felizes os ratos dessa colônia viverão.
Apesar de ratos serem muito diferentes de pessoas e colônias terem muitas diferenças também, quando comparadas a times, ainda assim eu pude aprender muita coisa observando o comportamento dos meus ratinhos de estimação!
Eles me ensinaram que conflitos são importantes e saudáveis (até certo ponto), que o tempo de desenvolvimento depende de outros e não de mim e principalmente. Quanto maior a estabilidade, maior a satisfação dos membros.
Espero que eles também possam inspirar vocês tanto quando me inspiram.
*Se você pensou em adquirir ratos pet, informe-se e pesquise sobre os cuidados necessários para cria-los.