Proteger o time, do que?
Estudando o papel de líder de times ágeis, como o papel do Scrum Master em times Scrum é comum vermos que o líder deve proteger ou até mesmo blindar o time de interferências externas. Essas afirmações, apesar de serem válidas, precisamos tomar cuidado para que isso não gere uma disfunção no time ou até mesmo problemas.
A primeira vez que eu ouvi isso eu me perguntei: “devo proteger meu time do que? ou de quem?”, eu não via nenhuma ameaça da qual meu time deveria ser protegido e quando eu ouvi que o líder deveria blindar a equipe, a palavra me causou mais estranheza ainda.
Um time blindado para mim, passava a mensagem de que o time está isolado do mundo, a parte da empresa. Essa ideia despertou diversos alertas na minha mente, isso ia contra alguns conceitos como transparência, colaboração, foco em resultados… precisei de algum esforço e mais profundidade no assunto para realmente entender o que isso queria dizer.
Futuramente como Agile Coach eu me preocupei e me preocupo até hoje, em passar esse conceito de forma que não gere problemas ou disfunções nesses líderes.
Termos e significados
Quando esse conceito é passado para os líderes, o real objetivo é garantir o foco e minimizar a perca de produtividade por troca de contextos no dia a dia da equipe.
Um líder ágil deve ficar atento para que o time tenha espaço em suas agendas e rotinas para focar naquilo que mais importa, a entrega de valor com qualidade e foco no cliente!
Essa á a principal função do time e como líder devemos criar um ambiente favorável a tal.
Quando a ideia de blindagem ouproteção é passada, adereça um cenário muito comum nas organizações que é a frequente interferência externa nos times de produção, principalmente quando esse time atende múltiplos clientes ao mesmo tempo. Nesses contextos é comum que o time seja bombardeado com pedidos de última hora, ajustes que precisam ser feitos para ontem e concorrência de pedidos entre os clientes.
Queira você ou não, esses pedidos de última hora ou urgentes fazem parte da dinâmica de entrega de valor em ambientes com ciclos curtos de feedback, isso só se torna um problema quando essas exceções se tornam rotina e regrada dentro do backlog da equipe.
O time mal terminou uma entrega planejada e já tem que se dividir para resolver um bug em produção ou fazer um ajuste fino na última entrega para que ela seja apresentada para um board executivo. São exemplos corriqueiros e a cada troca de contexto para atender esses pedidos extras, a equipe perde em produtividade, perde seu foco.
É quando essa situação se torna prejudicial ao time que o líder deve utilizar de suas capacidades para proteger ou até mesmo blindar a equipe dessas interferências externas prejudiciais à sua performance.
Quais os problemas?
Uma vez que o conceito é claramente explicado, ele faz todo sentido. Porém, se o líder coloca uma postura muito impositiva objetivando a blindagem de sua equipe, algumas disfunções perigosas podem acontecer.
Uma delas, e a que eu considero mais prejudicial, é acabar criando um ambiente de baixa sinergia e colaboração entre equipes. Nós costumamos focar nossas atenções para a colaboração intraequipe, ou seja, entre os membros de um mesmo time. Para times em formação isso é de fato essencial, mas não devemos esquecer que essa equipe faz parte de algo maior.
A blindagem de um time, deixando-os focados na entrega de seus objetivos é, a primeiro momento válida, porém isso pode gerar uma sensação de que não existe entrega além da equipe ou que essa equipe não faz parte de algo maior.
É fácil criar esse clima onde a equipe entrega suas metas, mas isso de pouco ajuda nos resultados finais da empresa, justamente porque a colaboração e sinergias das equipes que compõe um todo saiu prejudicada, uma vez que cada líder blindou sua equipe.
Essa proteção mencionada antes deve acontecer quando as interferências externas se tornam prejudiciais, do contrário, as chances de um ambiente individualista se criar são grandes.
Sem contar que, por mais autossuficiente que tentamos montar nossas equipes, ainda assim precisaremos, cedo ou tarde, do apoio de outras áreas correlatas e é nesse momento que equipes colaborativas ganham maior prioridade do que outras, acaba se tornando uma questão estratégica.
Dessa forma, proteger as equipes faz parte do comportamento de líderes, mas devemos dosar nossas decisões para que isso seja benéfico e não prejudicial dentro do ambiente em que estamos.