Toda hora é hora de mudar?
Vocês já devem ter lido em diversos artigos meus (e tenho certeza de que em muitos outros lugares também) que a melhoria contínua é um aspecto essencial para a agilidade. Para a adaptação à mudança ocorra, significa que mudanças devem também devam ocorrer com uma certa frequência.
Se levarmos isso literalmente, podemos acabar caindo em uma rotina incessante de mudanças, adaptações e mais adaptações com a motivação, positiva, de uma melhoria contínua. Teoricamente, essa situação não é um problema é na verdade um dos objetivos de uma implementação ágil, mas não podemos deixar de lado o aspecto humano, que está incluso nestas mudanças.
Pensando nisso, ficam as perguntas… “Toda a hora é hora de mudar?” “Existem limites para essas mudanças motivadas pela melhoria contínua?” “O que precisamos levar em consideração quando vamos propor uma adaptação ao time?”
Impactos psicológicos de uma mudança
Ao propormos uma mudança para um time, seja ela de ferramenta, processos ou outros, no fim quem operacionalizará essas mudanças são as pessoas envolvidas no assunto. Sendo assim, vale a pena observar como que essas mudanças afetam essas pessoas.
Esse assunto é complexo e apenas profissionais da saúde mental, tem competência para falar em profundidade sobre o tema, mas como líderes de times ou influenciadores dessas mudanças é importante entender, nem que seja de forma superficial, essa influência psicológica.
Para isso eu recomendo a leitura do meu primeiro artigo aqui no Linkedin, Os estágios do luto em uma Transformação Digital, onde eu exploro o tema da curva J de mudança ou modelo Kubler-Ross. De forma resumida, no artigo eu explico que a cada mudança proposta existe uma queda de produtividade dos envolvidos. Isso se dá por um estresse de lidar com essa mudança, até que a mudança passa a fazer parte de sua nova rotina.
Esse processo de adaptação psicológica a uma mudança leva tempo, pouco ou muito, dependendo da intensidade dela. Agora pense na situação que descrevemos no começo, quando as mudanças ocorrem de forma incessante.
Estamos expondo os profissionais a um estresse incessante da mesma forma, sem dar esse tempo de recuperação emocional dos envolvidos. Acabamos acumulando estresse e levando nossos profissionais ao limite.
Dessa forma, ao invés de ter implementado uma cultura de melhoria contínua, acabamos criando um ambiente estressante e desorganizado, sem dar tempo de uma mudança se instalar para começar outra.
Aspectos sociais da mudança
Além dos aspectos psicológicos, devemos considerar também que o time de profissionais forma um grupo social, com valores e princípios compartilhados entre si. Dessa forma, precisamos também entender o momento social desse grupo.
Grupos sociais são também complexos de serem estudados e de forma superficial podemos observar a segurança individual e social do grupo, para entender qual é o momento mais propício à uma mudança.
Nós tendemos a resistir às mudanças, buscamos sempre por uma zona de conforto e vemos as mudanças como algo prejudicial e não uma melhoria para o grupo.
Quando o indivíduo se sente seguro dentro do seu ciclo social e o grupo também se sente seguro, temos aí uma zona de conforto e as mudanças propostas vão ser mais difíceis de serem implementadas, neste caso.
É importante observar qual é o momento que o time está passando e olhando somente pelo aspecto de segurança individual e social do grupo, o momento ideal é quando o indivíduo se sente seguro dentro do grupo, mas o grupo em si está ameaçado, por exemplo, quando surge uma competição forte no mercado.
Esse é um gancho muito bom para propor mudanças, existe uma justificativa e uma necessidade eminente de adaptação e assim a resistência será muito menor.
Esses são dois exemplos de coisas que devemos levar em consideração ao propor uma mudança ao time, para que ele tenha uma cultura de melhoria contínua.
Não estamos falando da quantidade de adaptações por um período, mas sim a qualidade dessas transformações.
Não estamos falando da quantidade de adaptações por um período, mas sim a qualidade dessas transformações.
Mais vale uma mudança proposta no momento certo, com assertividade e com estratégia, do que várias mudanças feitas sem uma estratégia por trás.