Pessoas não são máquinas e bons líderes sabem muito bem disto
Se você já fez algum curso comigo ou já trabalhamos juntos com certeza você já me ouviu dizer que uma das principais diferenças entre métodos tradicionais de gerenciamento de projetos e métodos ágeis, é o fator humano!
Quando estudamos a agilidade, temos insumos para utilizar desde um setup de times e projetos, até mesmo a estruturação de grandes empresas, passando inclusive por liderança (nos mais diversos níveis), gerenciamento de projetos e também competências e habilidades para ser um membro de equipe. Uma coisa que existe em comum em todos esses pontos é que eles são realizados por seres humanos.
Se são sempre os seres humanos que estão por trás de processos, estruturações, ferramentas, estratégias, como podemos pensar em sucesso e resultados se não levarmos em consideração o indivíduo? É por isso que eu sempre digo que, se não levarmos em consideração o fator humano, nosso plano tende a falhar!
Recursos desHumanos
As empresas já entenderam isso, tanto que existe uma área do conhecimento muito abrangente e completa chamada de Recursos Humanos, que dentre outras coisas, estuda os seres humanos, seus relacionamentos e sua cultura dentro de um contexto empresarial. Mas eu não consigo deixar de ter um desconforto ao ouvir a palavra “recurso” quando nos referimos à pessoas.
Ok, eu entendo que as pessoas em uma empresa são meios ou ativos, aos quais as empresas se utilizam para produzir produtos ou serviços. Eu entendo que é um termo acadêmico e que por si só trás com ele conceitos atrelados que facilitam nossa comunicação e entendimento dos conceitos, mas ainda assim me gera um desconforto.
Ao nomear de recurso todos os meios ou ativos disponíveis a uma empresa e colocar as pessoas como um recurso nesse mesmo “pacote”, causamos uma desumanização que me incomoda, ainda mais em ambientes onde valorizamos “pessoas e seus relacionamentos mais que processos e ferramentas”.
Pessoas não são máquinas
Ao colocar pessoas e outros recursos em um mesmo “pacote”, damos espaço para comparações, chegando ao ponto de calcular produtividade de um indivíduo da mesma forma que calculamos capacidade produtiva de máquinas! Sou só eu ou você também vê que existem muitos problemas nisso?
Se uma pessoa produz 1 tarefa a cada hora, então em 8 horas ela produz 8 tarefas, em uma semana 40 tarefas e com 40 tarefas conseguimos entregar um projeto inteiro! E é assim que chegamos em uma reunião, marcada em caráter de emergência com nosso cliente para explicar que estamos atrasados, não cumprimos nossos prazos e que estouramos o budget…
Esse cálculo pode até funcionar para descobrirmos a produtividade de um equipamento (engenheiros de produção me ajudem aqui), mas com certeza, para um ser humano não, pelo simples fato de que esses dois “recursos” são diferentes um do outro.
Chame a pessoa de recurso, calcule seu tempo produtivo em horas, saia fazendo multiplicações e para fechar o combo com chave de ouro, atribua um número de série a essa pessoa (também chamado de “funcional” ou “matrícula”) e você já tem um ótimo indício de qual ambiente você está envolvido.
Fatores externos existem
Pessoas tem vida fora do trabalho (eu ouvi work-life balance?) e é um grande erro você desconsiderar isso, quando estiver a frente de um projeto ou de uma equipe. Basta um fim de semana problemático com um de seus funcionários, que o seu cálculo de 1 tarefa por hora vezes 8 horas no dia, vai resultar em 2 ou no máximo 3 tarefas entregues, a conta não fecha!
Mas onde fica o profissionalismo? Onde entra o famoso “deixar a vida pessoal da porta para fora”?
Quem diz coisas como essas ou atribui a falta de produtividade de uma pessoa devido a problemas pessoais, a falta de profissionalismo carecem muito de empatia.
Existe uma grande diferença entre baixa inteligência emocional e falta de profissionalismo, ao invés de culpar o profissionalismo da pessoa, que tal trabalhar aspectos comportamentais de um profissional de alta performance para que ele saiba lidar com essas demandas?
Somente se, depois de ter desenvolvido esse profissional e ter tentado múltiplas estratégias, que o argumento de profissionalismo pode vir para a pauta.
E se desconsiderarmos que o nosso “recurso” humano tem uma vida, tem desafios pessoais e que isso pode, e vai, influenciar no dia a dia do projeto, tendemos ao erro. Não é para tornar o escritório em uma clínica de psicologia, mas não devemos também ir ao outro extremo de tirar completamente os fatores externos dessa equação.
Empatia
Então eu vou precisar estudar psicologia, sociologia, filosofia, neurologia e biologia para ser um bom líder, gestor, ou gerente de projetos? Não! Ter empatia já basta.
Aliás, a pandemia do novo corona vírus obrigou muitos líderes a desenvolverem essa empatia, querendo eles ou não. Muitos vivenciaram na prática (e do dia para noite) que um “recurso humano” não produz durante uma pandemia o mesmo que produzia em ambientes normais.
Não precisa ser um psicólogo com mestrado em análise comportamental para saber, na segunda-feira de manhã, que seu funcionário teve um fim de semana ruim e muitas vezes quando olhamos para cara do profissional e vemos que ele não está bem, ainda assim cobramos dele a mesma produtividade de quando ele estava no melhor dos seus humores. Nossos profissionais não são máquinas!
Eu te garanto que, se você simplesmente se importar, isso já fará grandes diferenças, e o simples fato daquele profissional saber que, mesmo em um ambiente corporativo tem pessoas que se importam com ele, faz com que seu humor possa melhorar e sua produtividade também.
Pessoas que trabalham em empresas convivendo e lidando com outras pessoas, sejam minimamente empáticos, só isso já é o suficiente para que vocês gerem um ambiente onde pessoas e suas relações são mais importantes que processos e ferramentas!